What's in a name? Or in three.
Numa altura em que o debate político é dominado por discussões sobre a inclusão de arguidos/ processados/ culpados/ condenados nas listas de candidatos a deputados da Nação, apresentações de programas de governo e outras minudências, urge recentrar o debate nas questões que realmente afectam a vida das portuguesas e dos portugueses.
Muito se têm discutido ao longo dos anos as diferenças entre esquerda e direita. Essa discussão adquire particular relevância nestes tempos conturbados que vivemos, em que os mercados não se auto-regulam e desregulam pilares fundamentais em que assenta(va) a vida em sociedade (ter um BMW pode ter deixado de ser um indicador de bons genes com vista ao acasalamento para ser sinónimo de um crédito por pagar no BPP - uma tragédia) e em que as diferenças socio-económicas se acentuam. Esta questão torna-se ainda mais fundamental num país que nas últimas décadas conheceu apenas dois partidos e meio no arco da governabilidade. Muitas dúvidas assolam a população. O que distingue a esquerda da direita? Que valores separam o PS do PSD? O que os une? Fará sentido falarmos de um centrão? Aquilo na sopa de cação era salsa ou coentros?
[Aproveito esta breve reflexão para cunhar a expressão Jamex, a respeito do bloco central blogosférico.]
Apesar de esta ser uma discussão transversal (bem, há-de ser transversal a qualquer coisa) na reflexão de filósofos, sociólogos, politólogos e pessoas desinteressantes em geral ao longo dos séculos, poucas conclusões têm advindo dos seus trabalhos.
Não obstante, parece-me evidente que a principal diferença entre esquerda e direita é o nome das pessoas.
Por exemplo, o Chico da Silva tem muito mais probabilidades de ser de esquerda e mineiro, enquanto o Francisco de Silva será, numa margem de erro consideravelmente pequena, militante do PSD e gestor de uma empresa de exploração de recursos geológicos.
Que visão tão obtusamente simplista, oiço sussurar por aí. Antes de mais deixe-me dizer-lhe que isso não é coisa que se sussure. Se é para sussurar, esperava pelo menos um ou dois insultos. Desilude-me, caro e parvo leitor.
Exemplifiquemos, então.
O raciocínio - sejamos benevolentes e chamemos-lhe assim - que se expõe em seguida seria igualmente válido para os ressabiados do Jamais ou para o 31 da Armada em Parva, mas, a título de exemplo e por serem uma amostra mais representativa (e porque ninguém lhes liga, coitados), façamos o seguinte exercício com os autores da Rua da Amargura.
Dos 35 - trinta e cinco - autores do Rua da Amargura, apenas 11 - onze - não se incluem em qualquer das categorias que aqui se definem como pertencentes a Nomes de Direita. A maioria assina com três nomes, tem nomes de beto, ou um apelido estrangeiro, sendo que alguns (não fossem ser acusados de comunistas) acumulam categorias.
Assinam com três nomes = 16
Nomes de Beto* = 11
Apelido Estrangeiro = 4
Nome Normal (nome próprio não-beto + apelido) = 11
Acumulam pelo menos duas categorias = 9
Assinam conforme o BI = 2
Total = 16 + 11 + 4 + 11 - 9 + 2 = 35
* Para os devidos efeitos se informa que foram considerados como nomes de beto os seguintes: Adolfo, Afonso, Bernardo, Diogo, Eduardo, Francisco (2x), Frederico, Henrique, Leonardo e Tomás.
Os dados observados encontram-se reunidos no seguinte gráfico.
Para efeitos de cálculo e análise, ignoremos as duas entidades que assinam conforme o BI, e concluiremos que apenas 1/3 dos autores mais à direita do espectro político-blogo-eleitoral português têm nomes não claramente identificáveis como de direita.
Se o Nome de Beto é uma inevitabilidade que vem com o baptismo cujas responsabilidades indiviuais não podem ser assacadas directamente aos, lá está, indivíduos em causa, já o assinar com três nomes é uma opção que, mais do que uma homenagem à entidade matriacal na forma de utilização do nome de linha materna, parece ser uma espécie de etiqueta social (um duplo sentido na expressão etiqueta social, viu?), hierarquizando o seu utilizador num nível superior de acordo não com uma, mas com duas castas de origem certificada.
Não deixa de ser curiosa a prevalência de nomes com ascendência mais ou menos estrangeira (Burnay, Lamy, Mathias, Wahnon - e outros exemplos haveria noutras populações similares passíveis do mesmo estudo, como os Belford, Bettencourts ou Buchholz) nas fileiras das ideologias mais conotadas com o nacionalismo e as tradições da casta lusitana.
Sempre disponível para os grandes debates da Nação, do quase sempre vosso,
Capitão Archibald Haddock
PS: Aquilo na sopa de cação eram coentros. Pôr salsa na sopa de cação seria uma palermice.